Título: TODOS OS CANTOS
Autor: Gonçalves Dias
Ano: 2023
Edição: UEMA / AML
ISBN: 978-65-89254-55-3
743 g | 14 cm x 21 cm | 494 pág.
Categoria: Literatura brasileira. Poesia.
 
 
Sobre o livro:
 
 
A poesia de Gonçalves Dias foi sem dúvida um marco na Literatura Brasileira, no momento em que o país se reconhecia como nação. Devemos lembrar que ele nasceu um ano após a proclamação da Independência, resultado dessa crescente consciência de autonomia e de identidade própria. O Romantismo trouxera consigo uma nova visão da literatura, mas também da história humana e da realidade, que se revelavam complexas e dinâmicas e, por isso mesmo, impondo uma superação da razão, que predominara até então. Tratava-se de uma verdadeira subversão dos valores, quando a paixão, a busca do estranho e até mesmo do mórbido marcavam a literatura e as artes. Gonçalves Dias sofre as influências dessas novas ideias, mas não as adota em seu radicalismo, nem temática nem formalmente. Conhecedor da literatura clássica e da cultura portuguesa dos séculos XVI e XVII, realiza uma espécie de síntese dessa herança com a nova tendência. Já nos Primeiros Cantos, escritos com pouco mais de 20 anos de idade, revela-se em pleno domínio dos diferentes modos de compor o poema, sem obedecer à uniformidade das estrofes e tampouco às regras convencionais, conforme ele mesmo o diz no prefácio daquele livro de estreia. 
 
Não por acaso, o livro teve tanta repercussão e reconhecimento, tal a qualidade dos poemas e o domínio da expressão poética. Já então os poemas de temática indígena destacam-se pela economia vocabular e construção rítmica, e também pelo sentimento que expressam, em que o tom dramático (no sentido teatral) se sobrepõe ao sentimento lírico dos outros poemas. Aliás, este me parece um traço essencial da poesia de Gonçalves Dias, que, aliás, foi também dramaturgo, e de qualidade. Essa concepção dramatúrgica está evidente sobretudo no poema "I-Juca-Pirama", por si mesmo um poema dramático, com personagens definidos que são conduzidos por atitudes e sentimentos conflitantes, como numa peça teatral. Trata-se, neste caso, de uma obra-prima, cujo valor literário foi com razão exaltado por Antonio Candido, ao afirmar: "É dos tais deslumbramentos que de vez em quando ocorrem em nossa literatura." 
 
A produção poética de Gonçalves Dias terá durado cerca de dez anos, mas já se mostra plena em seu livro de estreia - Primeiros Cantos-, lançado aos 24 anos de idade. Nessa obra, além dos poemas líricos e indigenistas, há também os hinos, em que muitas vezes sua expressão se mostra, além de inspirada, renovadora, como em "Ideia de Deus", quando diz "a cujo sopro a máquina estrelada / Vacila nos eixos"; ou, em "O Mar": "tuas ondas correm / por sobre estrelas mil; turvam-se os olhos/Entre dois céus brilhantes". São apenas dois exemplos de uma obra que veio dar voz própria à poesia brasileira. 
 
(Gullar, Ferreira. Gonçalves Dias. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo.) 
 
[Texto de orelha do livro]